Minicurso 04 - Carlos Marighella e a ALN

Muniz Ferreira (Lattes: http://lattes.cnpq.br/3218494978727386)
É Licenciado em História pela Universidade Federal Fluminense, Mestre em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Doutor em História Econômica pela Universidade de São Paulo. Docente de História Moderna e Contemporânea. Pesquisador da História do Brasil Contemporâneo (século XX) e analista das relações internacionais (séculos XIX e XX). Estudioso do marxismo clássico e dos movimentos sócio políticos inspirados na tradição marxista. Investigador da História das formações de extrema-direita no Brasil e no mundo. Colaborador de publicações periódicas de caráter acadêmico como Cadernos CRH, Caderno do CEAS, Plurais, Crítica Marxista e Contexto Internacional. Co-autor das obras coletivas: A Segunda Guerra Mundial um balanço histórico (1995), Marx e Engels na história (1996), América Latina e Europa Centro-Oriental. Perspectivas para o Terceiro Milênio (1996), Carlos Marighella, o homem por trás do mito (1999), Dicionário Crítico do Pensamento da Direita. Idéias, Instituições e Personagens (2000) e Friedrich Engels e a Ciência Contemporânea (2007). Atualmente é professor associado de História Contemporânea e Relações Internacionais do Departamento de História da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Desenvolve e orienta pesquisa sobre as atividades artísticas, científicas e culturais da intelectualidade comunista brasileira no século XX e sobre atores, movimentos e processos contra-hegemônicos e anti-sistêmicos no sistema internacional.
Resumo: Carlos Marighella foi um revolucionário singular. Nascido a 11 de dezembro de 1911 em Salvador (BA) e falecido em combate no dia 4 de novembro de 1969 na capital paulista, foi um dos revolucionários mais completos da história de nosso país. Tendo iniciado sua trajetória política no início da década de 1930, quando cursava o curso de engenharia na Escola Politécnica de seu estado natal, participou ativamente das lutas políticas brasileiras durante mais de três décadas. No curso deste longo período empregou todas as formas de luta que considerou necessárias ao avanço das batalhas pela emancipação dos trabalhadores e do povo brasileiro. Estudante universitário que respondia em versos às questões formuladas por seus professores, também fez uso dos mesmos para estigmatizar Juracy Magalhães, interventor imposto aos baianos pelo governo “revolucionário” de Getulio Vargas e Juarez Távora na sequência dos acontecimentos de outubro de 1930. Encarcerado em consequência do fato e libertado tempos depois, apoiou na Bahia o Levante da Aliança Nacional Libertadora de novembro de 1935, precisando cair na clandestinidade e se evadir de seu estado natal para não conhecer nova prisão arbitrária. Já no sudeste, integrou-se às atividades subterrâneas do Partido Comunista nos anos do Estado Novo, conhecendo novo encarceramento, do qual só se libertaria com a anistia política de 1945. Fora da prisão, retoma o engajamento revolucionário nas fileiras de seu partido, sendo designado por este, em função de seu preparo político e prestigio junto às massas, para concorrer ao mandato de parlamentar constituinte na assembleia que elaboraria a carta constitucional de 1946. Um dos mais ativos deputados daquela legislatura, ocupante frequente da tribuna parlamentar na defesa dos interesses operários e populares, soube combinar com notável competência esta tarefa com outras responsabilidades políticas que decorriam de sua condição de dirigente partidário. Sendo assim, não apenas relatava as atividades da bancada na imprensa partidária e de massas, como também dirigia a revista teórica problemas, instrumento da intensa luta travada pelos comunistas brasileiros no terreno das ideias nos anos 1947-1955. Sua condição de um dos mais autorizados intérpretes e formuladores da orientação política do Comitê Central do PCB, foi reafirmada no curso dos debates internos dos anos 1956-1957, quando, à luz das denúncias do culto à personalidade e das violações à legalidade socialista praticados na União Soviética durante o governo de Stalin, Marighella se posicionou em prol da unidade partidária, participando do rechaço às concepções dogmáticas e aventureiras do grupo que, derrotado nas discussões preparatórias ao V Congresso nacional do partido, romperam com o PCB, indo formar, tempos depois um novo agrupamento político. Ocupando lugar destacado no mais elevado órgão da direção partidária, a comissão Executiva do Comitê Central, Carlos Marighella prosseguiu em seu trabalho de defesa e divulgação da política do partido na imprensa legal do então ilegal PCB (Jornal Novos Rumos) e na revista teórica e cultural criada para difundir os posicionamentos partidários, bem como aglutinar a intelectualidade progressista em torno das mesmas (Estudos Sociais).
O golpe civil-militar de 1964 ensejaria uma cesura sem precedentes e irreversível nas relações de Marighella com a formação político-partidária no seio da qual se constituíra como revolucionário e no seio da qual desenvolvera até então se toda a sua atividade partidária. Avaliando as causas do golpe de estado de maneira diferente da maioria da direção comunista, Carlos Marighella vertebrou, nos debates preparatórios do VI congresso do partido, uma dissidência de esquerda qual participaram também dirigentes comunistas de grande importância como Apolônio de Carvalho, Jacó Gorender, Joaquim Câmara Ferreira e Mario Alves. Derrotada nas acirradas discussões pré-congressuais, esta valorosa vertente de combatentes revolucionários se desvincularia do PCB nos anos 1967/1968. Eram os anos da propagação da influência internacional da revolução cubana e da disseminação de concepções políticas associadas à esta. Uma destas concepções preconizava o foco insurrecional como o instrumento privilegiado da ação revolucionária, sentenciava a obsolescência da forma-partido derivada da III Internacional, apostava na vontade revolucionária da vanguarda e em seu protagonismo sócio político na deflagração da insurgência revolucionária, atribuindo ao uso da violência um papel primordial no amadurecimento da crise revolucionária. Influenciado por algumas destas proposições Marighella deixou o partido em 1967 para travar seus últimos combates em prol da emancipação de seu povo e da classe operária brasileira.
O minicurso examinará o desenvolvimento das formulações teórico-políticas do revolucionário Carlos Marighella no período 1965-1967. O ponto de partida do desenvolvimento de tais elaborações é a crítica dirigida à orientação política colocada em prática pelo Partido Comunista Brasileiro (PCB) nos meses que sucederam ao putsch militar de 1964. Tal interpelação política, exposta de forma minuciosa no livro Por que resisti a prisão (1965), evoluiria posteriormente para a contestação dos próprios fundamentos da estratégia política dos comunistas, em particular, sua admissão da possibilidade de um desenvolvimento pacífico da revolução brasileira. Em textos posteriores como A crise brasileira (1966), Carta à executiva (1966), Ecletismo e marxismo (1967) completa-se o processo de ruptura política de Marighella com o partido comunista e a sua adesão plena ao projeto da guerra de guerrilhas latino-americana, documentado também em suas “cartas de Havana” dirigidas ao Comitê Central do PCB (17/08/67) e a Fidel Castro (18/08/67). Neste último ano, se desligou do PCB para organizar o Agrupamento Comunista de São Paulo, o qual deu origem à Ação Libertadora Nacional (ALN) em 1968. Sob esta legenda, realizou suas últimas ações revolucionárias até a morte em 1969.
Público-alvo: Estudantes de graduação e pós-graduação da área de ciências humanas e demais interessados no tema.
Dia e horário: 09 de novembro (Quarta-feira), das 14h às 17h.
Sala: Salão Nobre (2º Andar).
Inscrições: No dia e local da atividade.
Valor: Gratuito.
Carga-horária: 4h.
Confere certificação: Sim.
Bibiliografia
FERREIRA, M. G. Carlos Marighella: revolução e antinomias. In: NOVA, Cristiane; NÓVOA, Jorge. Carlos Marighella – O homem por trás do mito. São Paulo: Editora UNESP, 1999. p. 221-255. (Vol. 1)
______________ . Do protesto pacífico à luta armada. Leituras Contemporâneas, Salvador, v. 2, n.3/4, p. 177-195, 2004.
______________; PINHEIRO, Milton. Escritos de Marighella no PCB. Rio de Janeiro: FDR, 2013.
______________. Radicalizando a Política: A crítica de Marighella às posições do PCB no imediato pós 64. Revista Novos Rumos, v. 50, n. 2, 2013. Disponível em: <http://revistas.marilia.unesp.br/index.php/novosrumos/article/view/3463>. Acessado em: 22 de maio de 2016.
______________. Marighella e a ditadura: Imagens e representações. Novos Temas – Revista do Instituto Caio Prado Jr, n. 10, 1º semestre/2014, p. 145 – 164.
MAGALHÃES, Mario. Marighella, o revolucionário que incendiou o mundo. São Paulo, Companhia das Letras, 2012.